Para Além do Navio: O Paradoxo de Teseu e a Natureza Relacional da Identidade em Diferentes Domínios.

Resumo

O Paradoxo de Teseu serve como ferramenta filosófica para analisar a relação entre mudança material e permanência identitária em objetos e indivíduos ao longo do tempo. Este estudo, mediante revisão integrativa da literatura, investigou como o paradoxo ilustra a tensão entre transformação estrutural e essência persistente. A metodologia seguiu o protocolo PRISMA com coleta nas bases SciELO e Portal de Periódicos CAPES, selecionando 27 estudos originais em português, inglês ou espanhol que articulam o paradoxo aos conceitos de identidade e mudança, analisados através de triangulação temática e crítica teórica.

Os resultados evidenciam que o paradoxo não admite solução única, mas revela a identidade como construção multidimensional. Perspectivas filosóficas divergentes – desde abordagens substancialistas (como Locke, que fundamenta a identidade na continuidade da consciência) até teorias processuais (como Whitehead, para quem o ser equivale ao tornar-se) – propõem critérios distintos para persistência identitária, incluindo continuidade funcional, narrativa autobiográfica, integridade material e reconhecimento social.

Nas aplicações práticas, observa-se que a identidade de corporações jurídicas, obras de arte restauradas e corpos humanos com próteses mantém-se mediante três eixos inter-relacionados: continuidade histórica (trajetória causal ininterrupta), função essencial (propósito original preservado) e integridade relacional (padrão estrutural dinâmico). Conclui-se que a essência opera como processo autopoiético, onde transformação e permanência coexistem contextualmente, sendo o paradoxo fundamentalmente um instrumento epistemológico que expõe a natureza relacional – não absoluta – da identidade em diferentes domínios do conhecimento.