A Interdependência entre Ciências da Saúde e Ciências Sociais na Construção de Sociedades Mais Justas e Saudáveis
DOI:
https://doi.org/10.36557/2009-3578.2024v10n1p01-03Palavras-chave:
Saúde, Social, EditorialResumo
Ao longo da história, os desafios enfrentados pela humanidade no campo da saúde nunca foram puramente biológicos. A fome, as epidemias, o adoecimento mental, a desnutrição, a violência e o acesso desigual aos cuidados médicos são, em sua essência, fenômenos que revelam as marcas profundas de desigualdades sociais, culturais, econômicas e políticas. É nesse ponto de interseção que as Ciências da Saúde e as Ciências Sociais se encontram, ou melhor, se tornam inseparáveis.
Nas últimas décadas, a produção acadêmica e as políticas públicas vêm sinalizando uma compreensão mais holística do processo saúde-doença. Compreender a saúde como um fenômeno complexo, determinado não apenas por fatores genéticos ou clínicos, mas profundamente enraizado nas condições de vida, trabalho, educação, meio ambiente e relações sociais, é um avanço civilizatório. Essa mudança de paradigma exige o fortalecimento de abordagens interdisciplinares, onde o saber médico não se sobrepõe, mas dialoga com os saberes da sociologia, da antropologia, da psicologia social, da ciência política e da economia.
O campo da Saúde Coletiva, consolidado no Brasil a partir da década de 1970, é talvez a maior expressão dessa aliança entre o clínico e o social. Não por acaso, esse campo nasceu no bojo das lutas sociais e políticas pelo direito universal à saúde, culminando na criação do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição de 1988. A noção de que saúde é um direito de todos e dever do Estado é, ao mesmo tempo, um princípio de justiça social e uma orientação concreta de política sanitária.
A pandemia de COVID-19 reforçou dramaticamente a urgência dessa integração. As respostas puramente tecnocráticas mostraram-se insuficientes diante de uma crise que expôs de forma crua as desigualdades estruturais. A distribuição desigual de vacinas, a dificuldade de acesso a saneamento básico, a insegurança alimentar, o desemprego, a violência doméstica e o racismo institucional impactaram diretamente os indicadores de morbimortalidade. Falar de saúde, nesses contextos, é falar de justiça social.
Além disso, os determinantes sociais da saúde não são apenas dados descritivos: eles devem orientar decisões clínicas, políticas públicas e estratégias de cuidado. Um profissional de saúde que compreende o contexto de vida de seu paciente é capaz de oferecer não apenas tratamento, mas acolhimento, empoderamento e respostas culturalmente sensíveis. E isso só é possível se houver formação crítica e integrada entre os saberes médicos e sociais.
Na prática, integrar Ciências Sociais e Ciências da Saúde implica repensar currículos de graduação e pós-graduação, incentivar pesquisas transdisciplinares, fomentar políticas públicas intersetoriais e valorizar o papel de comunidades, movimentos sociais e populações tradicionais na construção de modelos de cuidado. Significa também romper com a lógica biomédica reducionista que muitas vezes domina os serviços de saúde, relegando o sofrimento humano a números estatísticos.
Ao compreendermos que saúde e doença são também construções sociais, políticas e simbólicas, damos um passo decisivo para a construção de sociedades mais equitativas e solidárias. A inter-relação entre as Ciências da Saúde e as Ciências Sociais não é um luxo acadêmico, mas uma necessidade epistemológica e ética, especialmente em países marcados por desigualdades históricas como o Brasil.
Este editorial, portanto, é um chamado. Um chamado à colaboração, à crítica construtiva, à escuta ampliada e à ação transformadora. É tempo de reconhecer que curar corpos sem cuidar de pessoas e comunidades é uma forma sutil de perpetuar adoecimentos. Somente com pontes sólidas entre as Ciências da Saúde e as Ciências Sociais poderemos, de fato, transformar o cuidado em prática emancipatória e cidadã.
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Referências
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