O H5 como gesto democrático e soberano na avaliação da produção científica brasileira

Abstract

O novo ciclo de avaliação dos programas de pós-graduação da CAPES mantem em partes uma  das decisões mais simbólicas e necessárias dos últimos anos: a adoção do índice H5 do Google Acadêmico como métrica para avaliação de periódicos científicos em diversas áreas do conhecimento. Trata-se de um ato de justiça histórica com a ciência brasileira e, acima de tudo, de um gesto democrático, pois corrige distorções que há muito penalizam os periódicos nacionais, especialmente aqueles que, apesar de sua alta qualidade, não têm acesso ou estrutura para serem indexados nas restritivas bases internacionais como Scopus e Web of Science.

O H5, ao contrário dessas bases comerciais, é gratuito, amplo, acessível e verdadeiramente representativo da produção científica real e plural de países como o Brasil. Ele não impõe barreiras de entrada técnicas, econômicas ou linguísticas, e tampouco discrimina revistas de pequeno porte ou institucionais. Por isso, a adoção do H5 como métrica é um reconhecimento explícito de que qualidade e impacto científico não podem — e não devem — ser medidos apenas pela chancela estrangeira ou por modelos elitistas de publicação.

Nesse contexto, é digno de aplauso o posicionamento de áreas que decidiram adotar o H5 como parte do processo de avaliação de seus programas. Essas áreas demonstram não apenas lucidez, mas também um compromisso verdadeiro com a soberania científica nacional, ao valorizar revistas brasileiras que, mesmo com recursos limitados e sem financiamento internacional, publicam ciência rigorosa, ética e socialmente relevante.

Em contrapartida, causa profunda preocupação — e repúdio — a decisão de outras áreas que optaram por excluir o H5 da avaliação, mantendo-se atreladas unicamente aos critérios de Scopus e Web of Science. Essa postura elitista, excludente e, em muitos casos, ideologicamente colonizada, tenta empurrar os pesquisadores brasileiros para periódicos estrangeiros, que cobram taxas abusivas (em dólar ou euro), muitas vezes inacessíveis para autores vinculados a instituições públicas. Essa escolha não apenas desestimula a produção científica nacional como também sabota os periódicos brasileiros, enfraquecendo sua relevância, sua visibilidade e sua sobrevivência.

Trata-se de um verdadeiro boicote à ciência brasileira, promovido sob o pretexto da "internacionalização", mas que, na prática, serve apenas para perpetuar desigualdades, elitizar a ciência e beneficiar conglomerados editoriais internacionais que exploram financeiramente o trabalho acadêmico.

Neste momento decisivo, é preciso ter coragem institucional. O uso do H5 é, sim, um avanço. Não como substituto único, mas como complemento justo — e mais democrático — às métricas tradicionais. Quem insiste em ignorá-lo está deliberadamente escolhendo manter a ciência brasileira submissa a padrões que não foram feitos para nos incluir, mas para nos excluir.

A CAPES, como instituição de fomento e avaliação, tem a responsabilidade de liderar um modelo que reflita a realidade brasileira, promova a equidade entre áreas e respeite a diversidade dos periódicos científicos nacionais. A adoção do H5 por parte de várias áreas já mostra que há caminho, há resistência e há lucidez.

Defender o H5 é defender a ciência brasileira.