O desmembramento de corpos na cidade de Manaus-AM (2024): uma estratégia de obstrução da justiça ou de controle territorial?
DOI:
https://doi.org/10.36557/2009-3578.2025v11n2p6631-6646Palavras-chave:
Desmembramento, Homicídios, Governança criminal, ManausResumo
Este estudo investiga duas dimensões do desmembramento de cadáveres em 19 ocorrências de homicídios na cidade de Manaus no ano de 2024: (1) sua função instrumental, como método para obstruir investigações, e (2) sua função simbólica, como demonstração de poder e controle territorial. O objetivo foi analisar se o desmembramento constitui primariamente uma estratégia de ocultação de provas e obstrução investigativa, ou se também funciona como mecanismo de demonstração de poder e controle territorial de facções. Adotando uma abordagem qualitativa e exploratória, foram analisados dados primários do Departamento de Polícia Técnico-Científica do Estado do Amazonas (DPTC-AM) e secundários de relatórios de inteligência, focando em padrões geoespaciais, perfil das vítimas e contexto investigativo. Os resultados revelam vítimas predominantemente masculinas, jovens e em situação de vulnerabilidade, mortas por arma branca com decapitação ou esquartejamento. Em nenhum dos casos foi identificada a autoria. A dispersão estratégica de partes dos corpos em rios e múltiplos locais, concentrada em áreas de influência do Comando Vermelho (CV) (Zonas Sul e Norte), evidenciou uma dupla função: dificultar a identificação e a elucidação do crime, e comunicar mensagens de terror e controle. Conclui-se que o desmembramento em Manaus-AM transcende a mera ocultação, configurando-se como uma tática sofisticada de governança criminal para intimidar rivais e consolidar a autoridade da facção em seus microterritórios. Argumenta-se que essas dimensões não são excludentes, mas complementares na estratégia de governança criminal.
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