ECOS DO SILÊNCIO
ACOLHIMENTO, CUIDADO E BARREIRAS À SAÚDE DA MULHER SURDA
DOI:
https://doi.org/10.36557/2009-3578.2025v11n2p5984-6003Palavras-chave:
Mulher surda, Acessibilidade, Libras, Saúde sexual e reprodutiva., InclusãoResumo
O presente estudo tem como objetivo analisar o acolhimento e os desafios enfrentados pelas mulheres surdas no acesso à saúde, com ênfase na dimensão sexual e reprodutiva. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada entre 2015 e 2025, nas bases de dados BVS, SciELO, Scopus, PubMed e Google Scholar, utilizando descritores relacionados à “mulher surda”, “saúde sexual e reprodutiva” e “acesso à saúde”. Foram inicialmente identificadas 87 publicações, das quais 8 atenderam aos critérios de inclusão. Os estudos selecionados apontam que a ausência de intérpretes de Libras, a falta de formação bilíngue dos profissionais de saúde e a escassez de materiais acessíveis configuram as principais barreiras ao cuidado integral. A dupla vulnerabilidade — por gênero e por surdez — agrava os riscos de desinformação, violência obstétrica, gestações não planejadas e exclusão dos espaços de decisão sobre o próprio corpo. A análise evidencia que o modelo biomédico e ouvintista, ainda predominante nos serviços de saúde, reforça práticas de negligência e silenciamento institucional. Conclui-se que a acessibilidade linguística e o reconhecimento da Libras como língua legítima de cuidado são condições essenciais para a efetivação dos direitos reprodutivos e da equidade em saúde. O fortalecimento da formação profissional bilíngue, a presença obrigatória de intérpretes e a produção de materiais educativos acessíveis são medidas fundamentais para um SUS inclusivo e comprometido com a justiça social.Downloads
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