O CORPO QUE ESCREVE
A ESCRITA DA LÍNGUA DE SINAIS COMO DESLOCAMENTO EPISTÊMICO NA APRENDIZAGEM DO PORTUGUÊS
DOI:
https://doi.org/10.36557/2009-3578.2025v11n2p5577-5595Palavras-chave:
Escrita de Sinais, Educação Bilíngue, Estudos Surdos, SignWriting, Letramento VisualResumo
Este artigo analisa a Escrita da Língua de Sinais (ELS), especialmente pelo sistema SignWriting (SW), como possibilidade de deslocamento epistemológico e pedagógico no ensino e na aprendizagem da Língua Portuguesa escrita por estudantes surdos. Parte-se da constatação de que a alfabetização de pessoas surdas, historicamente orientada por práticas oralistas e ouvintistas, reforça desigualdades linguísticas e cognitivas ao subordinar o gesto e a visualidade à lógica da fala. A pesquisa, de natureza qualitativa e caráter exploratório, ancora-se em referenciais teóricos dos Estudos Surdos, da Educação Bilíngue, da Linguística Aplicada indisciplinar e das filosofias da diferença e da desconstrução, os quais compreendem a linguagem como prática social, política e corporal. O estudo discute a ELS não como instrumento técnico, mas como ato de resistência epistêmica que rompe com o monopólio da escrita alfabética e reposiciona o corpo e o gesto como lugares legítimos de enunciação. A reflexão organiza-se em três eixos: a surdez como diferença e experiência visual; a escrita de sinais como prática de letramento bilíngue; e as implicações da ELS/SW na mediação entre Libras e português. Conclui-se que a escrita de sinais inaugura um paradigma visual-espacial de produção do conhecimento, no qual o olhar e o movimento substituem o som e a voz como fundamentos de uma pedagogia da diferença.Downloads
Referências
BARRETO, M. L.; BARRETO, L. A. SignWriting e o ensino de Libras: uma nova escrita para uma nova língua.Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 19, n. 1, p. 135-150, 2013.
COELHO, T. A. G. A Escrita da Língua de Sinais como mediação possível na aprendizagem do Português escrito.2021. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, 2021.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz. São Paulo: Ed. 34, 1992.
DERRIDA, J. Gramatologia. Trad. Miriam Schnaiderman e Renato Janine Ribeiro. São Paulo: Perspectiva, 1973.
FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001.
GESSER, A. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda.2. ed. São Paulo: Parábola, 2009.
MIGNOLO, W. D. Histórias locais / projetos globais: colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Trad. Solange Ribeiro de Oliveira. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
PERLIN, G. Identidades surdas: um estudo sobre as múltiplas formas de ser surdo. In: SKLIAR, C. (org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 2006. p. 51-74.
QUADROS, R. M. de. Educação de surdos: a aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
QUIJANO, A. Colonialidade do poder, eurocentrismo e América Latina. In: LANDER, E. (org.). A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Buenos Aires: CLACSO, 2000. p. 107-130.
SÁ, N. R. de. Cultura surda e práticas bilíngues: o espaço da diferença. Cadernos de Educação, Pelotas, v. 36, p. 43-62, 2011.
SANTOS, B. de S. A gramática do tempo: para uma nova cultura política. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010.
SELINKER, L. Interlanguage. International Review of Applied Linguistics, v. 10, n. 3, p. 209-231, 1972.
SKLIAR, C. A surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998.
SKLIAR, C. A invenção e a exclusão da alteridade surda na modernidade. Revista Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 41, n. 2, p. 333-351, 2016.
SLOMSKI, V. G. Bilinguismo e o ensino de português para surdos: por uma pedagogia da diferença. Revista Espaço, Brasília, v. 30, p. 97-116, 2012.
STUMPF, M. R. SignWriting: escrita de sinais para surdos. Porto Alegre: UFRGS, 2005.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Wolney Gomes Almeida, Tatiana Almeida Gavião Coelho

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Você tem o direito de:
- Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.
- Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado , prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas . Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.