Ouvintismo e Adoecimento
Violência Simbólica na Saúde Mental de Pessoas Surdas
DOI:
https://doi.org/10.36557/2009-3578.2025v11n2p5182-5205Palavras-chave:
Ouvintismo, Língua de Sinais, Saúde mental, violência simbólica, SurdezResumo
Este artigo analisa as relações entre ouvintismo, linguagem e saúde mental, discutindo a negação da língua de sinais como forma de violência simbólica que produz o adoecimento social e psicológico da pessoa surda. Parte-se do pressuposto de que a exclusão linguística, presente tanto nas práticas clínicas quanto nas políticas públicas de saúde, constitui um mecanismo de poder que silencia e deslegitima o sujeito surdo. O estudo tem como objetivo compreender como o ouvintismo se manifesta nos discursos e nas práticas de atendimento em saúde mental, investigando seus efeitos sobre a subjetividade e o sofrimento psíquico das pessoas surdas. Metodologicamente, inscreve-se em uma abordagem qualitativo-discursiva, apoiada na Análise do Discurso Crítica e na Filosofia da Diferença, utilizando como corpus documentos institucionais, publicações científicas e relatos de experiências em Centros de Atenção Psicossocial bilíngues. Os resultados evidenciam que a ausência de profissionais fluentes em Libras e de políticas que reconheçam a especificidade linguística da surdez reforça processos de marginalização e impede a constituição de vínculos terapêuticos eficazes. Por outro lado, experiências bilíngues demonstram que o uso da língua de sinais no cuidado em saúde mental favorece a expressão subjetiva, a autonomia e o sentimento de pertencimento. Conclui-se que o reconhecimento da Libras é condição ética e política para um cuidado que promova a escuta visual e a descolonização do olhar clínico sobre a diferença surda.
Downloads
Referências
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 4. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 17. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS. Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010.
BRASIL. Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 25 abr. 2002.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção Primária à Saúde. Nota Técnica nº 11/2017. Brasília: MS, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde Mental: avanços e desafios. Brasília: MS, 2023.
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Resolução CFP nº 018/2022. Dispõe sobre o atendimento de pessoas surdas e com deficiência auditiva. Brasília: CFP, 2022.
CRAWSHAW, Kimberlé. Mapping the Margins: Intersectionality, Identity Politics, and Violence against Women of Color. Stanford Law Review, v. 43, n. 6, p. 1241–1299, 1991.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1976.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 14. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
GONÇALVES, Valdirene; LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A escuta visual na clínica bilíngue: reflexões sobre o cuidado em saúde mental de pessoas surdas. Revista Psicologia e Sociedade, Belo Horizonte, v. 34, n. 1, p. 1–16, 2022.
KVAM, Marit; LOEB, Mitchell; TAMNES, Roger. Mental health in deaf adults: symptoms of anxiety and depression among hearing and deaf individuals. The Journal of Deaf Studies and Deaf Education, Oxford, v. 12, n. 1, p. 1–7, 2007.
LEITE, Vanessa; REZENDE, Pedro. Educação bilíngue e subjetividade surda: sofrimentos linguísticos e identidade.Revista Brasileira de Educação Especial, Marília, v. 27, n. 2, p. 289–307, 2021.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 Edições, 2018.
MOSÉ, Viviane. O homem que sabe: do sujeito cartesiano ao sujeito descentrado. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
MOSÉ, Viviane. A diferença que nos constitui. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Plano de ação em saúde mental 2013–2030. Genebra: OMS, 2022.
PERLIN, Gladis. Identidades surdas. Porto Alegre: Mediação, 2005.
QUILJANO, Aníbal. Colonialidade do poder e classificação social. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula (org.). Epistemologias do Sul. São Paulo: Cortez, 2010. p. 73–118.
SANTOS, Fábio; AMARAL, Bruna. Transtornos emocionais e barreiras comunicativas em pessoas surdas. Revista Brasileira de Saúde Mental, São Paulo, v. 11, n. 2, p. 44–59, 2019.
SKLIAR, Carlos. Um olhar sobre o “outro” e sobre a “diferença”: contribuições para uma pedagogia dialógica.Porto Alegre: Mediação, 1998.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: UFSC, 2009.
TURNER, O. et al. Suicide attempts among deaf college students: an analysis of risk factors. American Annals of the Deaf, Washington, v. 152, n. 4, p. 380–388, 2007.
WALSH, Catherine. Interculturalidad y colonialidad del poder: un pensamiento otro desde la diferencia colonial.Quito: Abya-Yala, 2018.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 WOLNEY GOMES ALMEIDA

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Você tem o direito de:
- Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.
- Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
De acordo com os termos seguintes:
- Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado , prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas . Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
- Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.